Sempre apostei na fusão de arquitetura e moda,encontrei esta reportagem do Correio Braziliense que explica e muito bem,este ponto de vista.É inegável que estas duas artes,encontram-se mais do que nunca conectadas,sorte para nós que podemos ver e adquirir produtos com muito conceito e desenvolvidos pelos melhores profissionais do mercado.Confiram a reportagem a seguir.
Assim na moda como na arquitetura
As duas facções do design sempre andaram lado a lado. Nos últimos anos, porém, nunca houve tanta troca de referências entre estilistas e arquitetos. Mas, afinal, o que há de comum entre casa e roupa?
Por Maria Júlia Lledó - Extraído do Correio BrazilienseAssim na moda como na arquitetura
As duas facções do design sempre andaram lado a lado. Nos últimos anos, porém, nunca houve tanta troca de referências entre estilistas e arquitetos. Mas, afinal, o que há de comum entre casa e roupa?
Publicação: 12/09/2011
Esta história começa com um lápis e uma folha de papel. De um lado, a mão que empunha o grafite está certa quanto às medidas que vão abraçar um espaço. Do outro, a mão que desenha linhas curvas quer vestir um corpo. Por causa dessas mãos criativas, podemos experimentar o design desde o momento em que acordamos em uma casa projetada para ser funcional e bela, até abrirmos nosso guarda-roupa para escolher o que vestir naquele dia. Parceiras ao longo de séculos, arquitetura e moda trocam referências que reverberam em revistas e páginas da internet. Nos últimos anos, no entanto, essa troca foi além. Arquitetos desenham sandálias, estilistas assinam móveis e o público agradece essa via de mão dupla que atrai mais foco para esses dois objetos de desejo: moda e casa.
Criadora e curadora do Salão Satélite, evento que revela novos talentos do design no mundo e ocorre paralelamente ao Salão Internacional de Móveis de Milão, Marva Griffin (ex-correspondente de publicações como Vogue) observa uma imersão de estilistas no cenário de design de interiores e até de mobiliários. “Grandes estilistas estão desenhando móveis. Giorgio Armani fez o Armani Casa. Antes dele, Giani Versace. Christian Lacroix lançou, este ano, uma coleção de móveis para uma empresa italiana”, exemplifica. E as interferências não param por aí.
Um lançamento aguardado para este mês é de autoria do multifacetado Karl Lagerfeld. O estilista francês à frente da Chanel desenhou uma coleção de taças e vasos de cristal para a centenária marca sueca The Orrefors. A família de cristais de Lagerfeld incluirá taças para champanhe, vinho, água e licor, além de vasos. Todos nas cores preta, branca e transparente.
Já nas vitrines, saltam aos olhos de fashionistas os móveis com as tramas coloridas e em zigue-zague da sofisticada marca italiana Missoni. Outra grife também entrou nessa área. Em parceria com a Moroso, a Diesel emprestou sua identidade informal, com pegada rock’n’roll, para bancos, sofás e mesas. Tudo para colorir um lar.
Segundo o arquiteto e designer de consumo Maurício Queiroz, desde o fim do século passado, em meados dos anos 1980, essa estratégia começou a ser impulsionada. “Missoni Home foi uma das pioneiras, Armani Casa depois, em 1992. Ainda temos Bulgari, Fendi, Versace, Diesel e Zara Home, que é mais popular, mas trabalha bem essa união. Além das marcas que oferecem mobiliários e moda, elas também assinam grandes construções de arquitetura, como hotéis e galerias”, acrescenta.
Um lançamento aguardado para este mês é de autoria do multifacetado Karl Lagerfeld. O estilista francês à frente da Chanel desenhou uma coleção de taças e vasos de cristal para a centenária marca sueca The Orrefors. A família de cristais de Lagerfeld incluirá taças para champanhe, vinho, água e licor, além de vasos. Todos nas cores preta, branca e transparente.
Já nas vitrines, saltam aos olhos de fashionistas os móveis com as tramas coloridas e em zigue-zague da sofisticada marca italiana Missoni. Outra grife também entrou nessa área. Em parceria com a Moroso, a Diesel emprestou sua identidade informal, com pegada rock’n’roll, para bancos, sofás e mesas. Tudo para colorir um lar.
Segundo o arquiteto e designer de consumo Maurício Queiroz, desde o fim do século passado, em meados dos anos 1980, essa estratégia começou a ser impulsionada. “Missoni Home foi uma das pioneiras, Armani Casa depois, em 1992. Ainda temos Bulgari, Fendi, Versace, Diesel e Zara Home, que é mais popular, mas trabalha bem essa união. Além das marcas que oferecem mobiliários e moda, elas também assinam grandes construções de arquitetura, como hotéis e galerias”, acrescenta.
O designer José Marton, há mais de uma década no cenário de design e arquitetura com o sócio e irmão Fernando Marton, na Marton+Marton, também dá crédito à influência da moda na primeira linha de móveis que desenvolveu para a Allê Design. A criação surgiu após desenvolver um cenário em acrílico para um desfile da Cia. Marítima. A partir dessa referência, o designer se deu conta de outras possibilidades para aquele conceito adotado pela grife. “Acredito nesse diálogo entre diferentes áreas de trabalho. Por isso, na Marton temos cenógrafos, arquitetos, desenhistas, DJs…Visões diferentes dão uma cara diferente ao produto”, reflete.
Poderíamos, então, arriscar como palpite uma interferência cada vez maior do estilista no design de interiores e do arquiteto nas passarelas? Segundo a professora de moda Mariana Rocha, da Faculdade Santa Marcelina, em São Paulo, os limites entre essas artes e linguagens tende a se esfacelar cada vez mais. “É saudável a troca de informações entre as diversas atividades humanas e é normal que, após uma época em que se valorizou a especialização, siga-se um período que valorize a integração entre diversas áreas”, aposta.
Pincelada histórica
Ao longo dos séculos, arquitetos e designers de moda caminharam juntos. Entre tantos períodos, a professora do curso de moda Mariana Rocha destaca aquele em que se desenvolveu o movimento Art Noveau — entre 1890 e a Primeira Guerra Mundial (1914-1918) — como o mais emblemático dessa relação. “Esse movimento sonhou com um estilo que invadisse todos os aspectos da vida, da arquitetura, da decoração e das roupas”, conta. Os arabescos e as curvas, complementados pelos tons frios, invadiram as ilustrações, o mundo da moda, as fachadas e os interiores. Na arquitetura, o traço do belga Henry van de Velde e de outros arquitetos ligados ao movimento traz a ideia modernista da unidade dos projetos, articula o interno e o externo, a função e a forma, a utilidade e o ornamento. Na moda, o estilista francês Paul Poiret libertou as mulheres dos espartilhos para que elas assumissem silhuetas soltas, estética da época. Inspirado pela Art Nouveau, Poiret também introduziu cores vivas na alta costura. “A mentalidade da época, os acontecimentos políticos e econômicos, o comportamento da sociedade, tudo isso naturalmente se espelha na estética do período”, explica Mariana.
Das passarelas para a decoração
Quando não é o arquiteto quem recebe influência da moda, é o estilista quem empresta outro olhar para o mobiliário. Na coleção de móveis planejados da Dell Anno, por exemplo, a aposta em uma figura do cenário fashion foi carro-chefe. Antes, a empresa tinha modelos como garotas propagandas. Caso das tops Isabelli Fontana, em 2009, e Alessandra Ambrósio, em 2010. Este ano, no entanto, o convite foi feito a um estilista para que assinasse a criação de uma estampa que revestiria móveis e paredes de salas, quartos e cozinhas. “Buscamos inspiração na moda para criar móveis que representem o estilo das pessoas”, explica Edson Busin, diretor de marketing da empresa.
Reinaldo Lourenço foi quem assinou duas estampas: chamalote noir e claire (escuro e claro). A ideia do estilista resgatou o uso desse tecido furta-cor, em que a posição do fio produz um efeito ondulado. Também conhecido por moiré — presente na corte europeia do século 17 —, o chamalote teve de ser adaptado aos recursos e à tecnologia atuais. Se antes o nobre tecido era feito de lã de pelo de camelo, hoje, o mesmo efeito tridimensional é reproduzido com seda e poliamida. Para o estilista, o processo de criação de uma estampa para móveis foi muito parecido com o de criação de roupas. “Em meu trabalho, já olhei para o movimento Bauhaus, para Brasília… Não tem como pensar na moda sem olhar para a arquitetura”, disse Reinaldo Lourenço durante o lançamento da coleção, em agosto passado. Antes de Reinaldo Lourenço, outros estilistas desenvolveram “roupas” para vestir a casa. Sócia e criadora da loja Farm, Kátia Barros criou estampas com finalidade decorativa para a paulistana JRJ Tecidos. Na época, Kátia confessou à impressa: “Quem gosta de moda, gosta de decoração. É como brincar de casinha”. A estilista Adriana Barra também embarcou nessa onda quando aceitou o convite da Micasa para desenhar uma linha de estampas que seriam aplicadas em móveis. O convite foi só o primeiro de muitos, e Adriana já desenhou desde pastilhas de cerâmica a maçanetas.
Os estilistas Ronaldo Fraga, Alexandre Herchcovitch e Amir Slama também criaram linhas de peças decorativas para a Tok & Stok. No final, todos saem ganhando. Uma vez que o resultado dessa “dobradinha” permite a aquisição de uma peça criada por badalados nomes da moda. Senão no armário, mas sobre o sofá da sala de estar.
Perene ou volátil?
Para que as peças dos estilistas alcancem o público, entram em cena lojas personalizadas e assinadas por arquitetos que compreendem a identidade do designer de moda. Destaque nesse cenário e autor do projeto de arquitetura para lojas da Rosa Chá, Huis Clos e Alexandre Herchcovitch (FOTO 16), Arthur Casas gosta da parceria entre arquitetos e estilistas. “Quando faço o projeto de uma loja, o trabalho é a quatro mãos. Preciso estudar muito a marca, entender o conceito do estilista e o público que ele quer atingir.” Sem interferência de um no trabalho do outro. “Não faço uma loja para durar o tempo de uma coleção”, explica. Foi assim quando Casas criou a loja do estilista paulistano Alexandre Herchcovitch, no Shopping Morumbi. “Na época, Alexandre era um cara muito ligado ao mundo da noite, clubber. Esse não é meu caso. Tenho sete anos a mais que ele e acredito que se ele pegasse alguém da geração dele, naquele momento, para fazer o projeto, talvez ele não agregasse outro público”, acredita o arquiteto.
Ela já fez estágios para as marcas Tufi Duek e Calvin Klein, foi assistente de Jum Nakao e desenvolveu produtos com Alexandre Herchcovitch. Desde 2008, a paulistana Fernanda Yamamoto é dona de uma marca que leva seu nome e dispensa quaisquer vestígios de tendências. Na casa da estilista, não é difícil relacionar sua ideia de moda à escolha de cores, móveis e objetos. “Minha casa é um espaço aconchegante e limpo de referências. Por isso mesmo, dá para perceber os detalhes de um objeto que seja especial. Essa também é, de certa forma, a característica da roupa que faço. Não é uma roupa minimalista, mas tem um detalhe de construção que lhe dá uma característica única”, define.
Namorada do arquiteto Rodrigo Ohtake, filho de Ruy Ohtake, Fernanda troca figurinhas com o amado. O casal não interfere no trabalho um do outro, mas conversa bastante sobre os projetos em que se debruçam. “Cada um tem uma expertise na área, mas pedimos sugestões e trocamos ideias”, conta. É dele o projeto do apartamento da estilista, espaço que defende um diálogo criativo entre arquitetura e moda. “As duas são maneiras de se pensar o espaço. A arquitetura vai vestir o espaço e eu, o corpo. Por causa da arquitetura, comecei a enxergar a modelagem de uma maneira diferente. Tento modelar o corpo de uma maneira tridimensional, e meu uso de cores também mudou. Tanto que, na última coleção, adotei cores mais fortes e linhas mais curvas”, revela. Apesar de apostar nesse intercâmbio de referências, Fernanda prefere separar os assuntos. Quer dizer, a moda que ela faz pode até estar presente dentro de casa, mas não explícita no espaço. Salvo por uma ou outra almofada cuja estampa foi desenvolvida para alguma coleção da estilista. “Clean”, como ela mesma define, a casa de Fernanda Yamamoto deixa a estilista livre para pensar e criar sobre o espaço em branco. Como em uma folha de papel.
Quando ela assina um projeto residencial, mesmo afinada com o gosto do cliente, cria espaços com sua assinatura: nada de excesso de referências. Dessas que fazem o dono da casa tropeçar entre peças, quadros e esculturas em demasia. Até porque harmonia é algo que a designer de interiores Cybele Barbosa preza no trabalho… E também no guarda-roupa.
Na ponte área entre Brasília e Porto Alegre, onde também tem uma casa, a designer distribui nos dois closets as peças que considera indispensáveis. A única diferença do guarda-roupa brasiliense é que dele ficaram de fora todos os vestidos de festa. “Aqui, deixo apenas o que gosto de usar para encontrar amigas, para trabalhar…E para um chá das cinco”, brinca. Descontraída e bem-humorada, ela gosta de peças diferentes e, talvez por isso, defina seu estilo como irreverente. “O que é fora do comum eu compro, mas veja bem, somente se o custo-benefício valer a pena. Porque, normalmente, as roupas e os sapatos de marca que tenho são clássicos para toda a hora”, conta.
Vaidosa, a designer aposta na combinação de peças básicas com itens luxuosos. Quando vai às compras, não dispensa uma sacola com peças baratas — de lojas de departamento ou de feiras de artesanato — e de grifes, como Missoni, Prada e Louboutin. Assim é também na escolha de peças de decoração para a casa. Por gostar e apreciar obras de arte — espalhadas pela casa vemos obras de Brennand, Fernando Veloso entre outros —, Cybele chama atenção das clientes para um olhar mais atento aos artistas. “Quando um cliente viaja para a Ásia, por exemplo, falo para ele trazer uma escultura, uma máscara ou até mesmo alguns colares feitos por artistas locais. Tudo isso pode se tornar belas peças de decoração”, aconselha.
Dona de um olhar treinado para o que é belo para a casa, Cybele vê a moda como aliada nos projetos que assina. E quando é a vontade e vestir o corpo que fala mais alto, a “roupa” para a casa espera sua vez. “Semana passada, fui numa loja e vi umas almofadas… Só conseguia pensar: até que o tecido delas renderia um vestido bem bonito”, aposta.
O que não entraria no closet de Cybele Barbosa
- Pele de animal
- Marrom
- Saruel (para agradar o marido, teve que comprar duas calças)
Das passarelas para a decoração
Quando não é o arquiteto quem recebe influência da moda, é o estilista quem empresta outro olhar para o mobiliário. Na coleção de móveis planejados da Dell Anno, por exemplo, a aposta em uma figura do cenário fashion foi carro-chefe. Antes, a empresa tinha modelos como garotas propagandas. Caso das tops Isabelli Fontana, em 2009, e Alessandra Ambrósio, em 2010. Este ano, no entanto, o convite foi feito a um estilista para que assinasse a criação de uma estampa que revestiria móveis e paredes de salas, quartos e cozinhas. “Buscamos inspiração na moda para criar móveis que representem o estilo das pessoas”, explica Edson Busin, diretor de marketing da empresa.
Reinaldo Lourenço foi quem assinou duas estampas: chamalote noir e claire (escuro e claro). A ideia do estilista resgatou o uso desse tecido furta-cor, em que a posição do fio produz um efeito ondulado. Também conhecido por moiré — presente na corte europeia do século 17 —, o chamalote teve de ser adaptado aos recursos e à tecnologia atuais. Se antes o nobre tecido era feito de lã de pelo de camelo, hoje, o mesmo efeito tridimensional é reproduzido com seda e poliamida. Para o estilista, o processo de criação de uma estampa para móveis foi muito parecido com o de criação de roupas. “Em meu trabalho, já olhei para o movimento Bauhaus, para Brasília… Não tem como pensar na moda sem olhar para a arquitetura”, disse Reinaldo Lourenço durante o lançamento da coleção, em agosto passado. Antes de Reinaldo Lourenço, outros estilistas desenvolveram “roupas” para vestir a casa. Sócia e criadora da loja Farm, Kátia Barros criou estampas com finalidade decorativa para a paulistana JRJ Tecidos. Na época, Kátia confessou à impressa: “Quem gosta de moda, gosta de decoração. É como brincar de casinha”. A estilista Adriana Barra também embarcou nessa onda quando aceitou o convite da Micasa para desenhar uma linha de estampas que seriam aplicadas em móveis. O convite foi só o primeiro de muitos, e Adriana já desenhou desde pastilhas de cerâmica a maçanetas.
Os estilistas Ronaldo Fraga, Alexandre Herchcovitch e Amir Slama também criaram linhas de peças decorativas para a Tok & Stok. No final, todos saem ganhando. Uma vez que o resultado dessa “dobradinha” permite a aquisição de uma peça criada por badalados nomes da moda. Senão no armário, mas sobre o sofá da sala de estar.
Perene ou volátil?
Para que as peças dos estilistas alcancem o público, entram em cena lojas personalizadas e assinadas por arquitetos que compreendem a identidade do designer de moda. Destaque nesse cenário e autor do projeto de arquitetura para lojas da Rosa Chá, Huis Clos e Alexandre Herchcovitch (FOTO 16), Arthur Casas gosta da parceria entre arquitetos e estilistas. “Quando faço o projeto de uma loja, o trabalho é a quatro mãos. Preciso estudar muito a marca, entender o conceito do estilista e o público que ele quer atingir.” Sem interferência de um no trabalho do outro. “Não faço uma loja para durar o tempo de uma coleção”, explica. Foi assim quando Casas criou a loja do estilista paulistano Alexandre Herchcovitch, no Shopping Morumbi. “Na época, Alexandre era um cara muito ligado ao mundo da noite, clubber. Esse não é meu caso. Tenho sete anos a mais que ele e acredito que se ele pegasse alguém da geração dele, naquele momento, para fazer o projeto, talvez ele não agregasse outro público”, acredita o arquiteto.
Por isso, Casas aposta em projetos afinados com a identidade do designer de moda. Espaços alinhavados pelo ideal e pela concepção de um espaço atemporal, que em nada se baseia na criação sazonal do mercado da moda. “Arquitetura não pode ser moda. Tem que ser algo perene. Não outono/inverno”, frisa.
Entrevista//Jum Nakao, estilista e diretor de criação
Entrevista//Jum Nakao, estilista e diretor de criação
Inquieto e pra lá de criativo, Jum Nakao não dá ponto sem nó. Quer dizer, não segue onda ou modismos, nem desenha projetos sem qualquer propósito que não seja derrubar fronteiras entre as artes. Ao passear por diversas áreas, de onde bebe inspiração e referências, Jum já assinou espaços de mostras de arquitetura e de design como diretor de criação. Também é dele a Estante Moving, criada para os 30 anos da Tok Stok. No âmbito da moda, produziu peças que instigaram o público a repensar o que de fato envolve um corpo, a exemplo da performática coleção de vestidos de papel na São Paulo Fashion Week de 2004. Em entrevista por e-mail, Jum conta à Revista que reflexões faz sobre a relação entre design de ambientes e de moda e ainda deixa escapar sua visão crítica sobre tendências lançadas pelo mercado.
Como foi a concepção de um espaço para o Casa Brasil Design 2011, em Bento Gonçalves? Moda e arquitetura entrelaçam-se ou ficam bem separadas?
A convite do Sindmóveis, realizei a concepção do espaço do Salão Design. A ideia foi propiciar à cadeia moveleira, aos profissionais do setor e à comunidade uma percepção complexa do design. Para completa imersão nessa experiência, um pensamento urbanístico norteou o mapeamento de uma cidade do design dentro de um galpão de 3,434 mil m². As placas que revestiam as fachadas foram confeccionadas com sobras da indústria local. A composição aleatória dos elementos que compunham essas placas foi realizada por alunos da comunidade. Combinações do acaso, interações improváveis, participação ativa, vislumbramento de novos caminhos. Metáfora e metamorfose através do design.
Então seu trabalho dialoga com o design de moda e de ambientes?
Estruturo meu pensamento sem estabelecer dimensões compartimentadas. Acredito na soma de linguagens, pois encaro o observador na sua complexidade e não na estanqueidade de suas sensibilidades e afetos.
O processo criativo de ambas as vertentes do design se assemelha e se diferencia em quais aspectos?
O lugar que você habita tem relação direta com seus hábitos, modos, moda. Hábito também significa roupa. Moda permeia lugares que você frequenta, livros que você lê, bandas que você ouve, a forma como você se expressa, a forma como você recebe as pessoas, a gastronomia, a cultura ao seu redor e, por fim, a roupa. A roupa seria a conexão final entre seu habitat interior e os seus hábitos. Certa vez escrevi: ‘não me atenho à ordem das matérias, mas ao que elas servem’. Através desse pensamento, quis expressar que independentemente da natureza, mineral, animal, sintética, a escolha é feita a partir de uma necessidade e uma intenção. A função determina a matéria-prima adequada. Posso dizer também que não me atenho ao suporte, à roupa, à arquitetura ou ao mobiliário, mas ao usuário e as suas possíveis relações e percepções através desses meios.
A roupa está para o corpo assim como a casa está para quem a habita?
Nesse sentido, vestir uma casa, criar um espaço é muito próximo de vestir uma pessoa, pois o que vestimos, na realidade, é a relação do usuário com o entorno. Roupas e casa se tornam uma extensão de quem as habita.
Há tendências em cores e traços seguidos tanto por arquitetos quanto por estilistas?
Não acredito em tendências. Acho elas secundárias, um oportunismo para os preguiçosos em pensar. O principal é linguagem, intenção de significado. Somente após definir o que deve ser dito é que se justifica a escolha das palavras. Essa escolha deve ser em função das percepções desejadas e não em função das tendências.
A moradia de uma, o closet da outra
Como foi a concepção de um espaço para o Casa Brasil Design 2011, em Bento Gonçalves? Moda e arquitetura entrelaçam-se ou ficam bem separadas?
A convite do Sindmóveis, realizei a concepção do espaço do Salão Design. A ideia foi propiciar à cadeia moveleira, aos profissionais do setor e à comunidade uma percepção complexa do design. Para completa imersão nessa experiência, um pensamento urbanístico norteou o mapeamento de uma cidade do design dentro de um galpão de 3,434 mil m². As placas que revestiam as fachadas foram confeccionadas com sobras da indústria local. A composição aleatória dos elementos que compunham essas placas foi realizada por alunos da comunidade. Combinações do acaso, interações improváveis, participação ativa, vislumbramento de novos caminhos. Metáfora e metamorfose através do design.
Então seu trabalho dialoga com o design de moda e de ambientes?
Estruturo meu pensamento sem estabelecer dimensões compartimentadas. Acredito na soma de linguagens, pois encaro o observador na sua complexidade e não na estanqueidade de suas sensibilidades e afetos.
O processo criativo de ambas as vertentes do design se assemelha e se diferencia em quais aspectos?
O lugar que você habita tem relação direta com seus hábitos, modos, moda. Hábito também significa roupa. Moda permeia lugares que você frequenta, livros que você lê, bandas que você ouve, a forma como você se expressa, a forma como você recebe as pessoas, a gastronomia, a cultura ao seu redor e, por fim, a roupa. A roupa seria a conexão final entre seu habitat interior e os seus hábitos. Certa vez escrevi: ‘não me atenho à ordem das matérias, mas ao que elas servem’. Através desse pensamento, quis expressar que independentemente da natureza, mineral, animal, sintética, a escolha é feita a partir de uma necessidade e uma intenção. A função determina a matéria-prima adequada. Posso dizer também que não me atenho ao suporte, à roupa, à arquitetura ou ao mobiliário, mas ao usuário e as suas possíveis relações e percepções através desses meios.
A roupa está para o corpo assim como a casa está para quem a habita?
Nesse sentido, vestir uma casa, criar um espaço é muito próximo de vestir uma pessoa, pois o que vestimos, na realidade, é a relação do usuário com o entorno. Roupas e casa se tornam uma extensão de quem as habita.
Há tendências em cores e traços seguidos tanto por arquitetos quanto por estilistas?
Não acredito em tendências. Acho elas secundárias, um oportunismo para os preguiçosos em pensar. O principal é linguagem, intenção de significado. Somente após definir o que deve ser dito é que se justifica a escolha das palavras. Essa escolha deve ser em função das percepções desejadas e não em função das tendências.
A moradia de uma, o closet da outra
Ela já fez estágios para as marcas Tufi Duek e Calvin Klein, foi assistente de Jum Nakao e desenvolveu produtos com Alexandre Herchcovitch. Desde 2008, a paulistana Fernanda Yamamoto é dona de uma marca que leva seu nome e dispensa quaisquer vestígios de tendências. Na casa da estilista, não é difícil relacionar sua ideia de moda à escolha de cores, móveis e objetos. “Minha casa é um espaço aconchegante e limpo de referências. Por isso mesmo, dá para perceber os detalhes de um objeto que seja especial. Essa também é, de certa forma, a característica da roupa que faço. Não é uma roupa minimalista, mas tem um detalhe de construção que lhe dá uma característica única”, define.
Namorada do arquiteto Rodrigo Ohtake, filho de Ruy Ohtake, Fernanda troca figurinhas com o amado. O casal não interfere no trabalho um do outro, mas conversa bastante sobre os projetos em que se debruçam. “Cada um tem uma expertise na área, mas pedimos sugestões e trocamos ideias”, conta. É dele o projeto do apartamento da estilista, espaço que defende um diálogo criativo entre arquitetura e moda. “As duas são maneiras de se pensar o espaço. A arquitetura vai vestir o espaço e eu, o corpo. Por causa da arquitetura, comecei a enxergar a modelagem de uma maneira diferente. Tento modelar o corpo de uma maneira tridimensional, e meu uso de cores também mudou. Tanto que, na última coleção, adotei cores mais fortes e linhas mais curvas”, revela. Apesar de apostar nesse intercâmbio de referências, Fernanda prefere separar os assuntos. Quer dizer, a moda que ela faz pode até estar presente dentro de casa, mas não explícita no espaço. Salvo por uma ou outra almofada cuja estampa foi desenvolvida para alguma coleção da estilista. “Clean”, como ela mesma define, a casa de Fernanda Yamamoto deixa a estilista livre para pensar e criar sobre o espaço em branco. Como em uma folha de papel.
O que não entraria na casa de Fernanda Yamamoto
- Algo muito rococó
- Neoclássico
- Étnico
- Algo muito rococó
- Neoclássico
- Étnico
Quando ela assina um projeto residencial, mesmo afinada com o gosto do cliente, cria espaços com sua assinatura: nada de excesso de referências. Dessas que fazem o dono da casa tropeçar entre peças, quadros e esculturas em demasia. Até porque harmonia é algo que a designer de interiores Cybele Barbosa preza no trabalho… E também no guarda-roupa.
Na ponte área entre Brasília e Porto Alegre, onde também tem uma casa, a designer distribui nos dois closets as peças que considera indispensáveis. A única diferença do guarda-roupa brasiliense é que dele ficaram de fora todos os vestidos de festa. “Aqui, deixo apenas o que gosto de usar para encontrar amigas, para trabalhar…E para um chá das cinco”, brinca. Descontraída e bem-humorada, ela gosta de peças diferentes e, talvez por isso, defina seu estilo como irreverente. “O que é fora do comum eu compro, mas veja bem, somente se o custo-benefício valer a pena. Porque, normalmente, as roupas e os sapatos de marca que tenho são clássicos para toda a hora”, conta.
Vaidosa, a designer aposta na combinação de peças básicas com itens luxuosos. Quando vai às compras, não dispensa uma sacola com peças baratas — de lojas de departamento ou de feiras de artesanato — e de grifes, como Missoni, Prada e Louboutin. Assim é também na escolha de peças de decoração para a casa. Por gostar e apreciar obras de arte — espalhadas pela casa vemos obras de Brennand, Fernando Veloso entre outros —, Cybele chama atenção das clientes para um olhar mais atento aos artistas. “Quando um cliente viaja para a Ásia, por exemplo, falo para ele trazer uma escultura, uma máscara ou até mesmo alguns colares feitos por artistas locais. Tudo isso pode se tornar belas peças de decoração”, aconselha.
Dona de um olhar treinado para o que é belo para a casa, Cybele vê a moda como aliada nos projetos que assina. E quando é a vontade e vestir o corpo que fala mais alto, a “roupa” para a casa espera sua vez. “Semana passada, fui numa loja e vi umas almofadas… Só conseguia pensar: até que o tecido delas renderia um vestido bem bonito”, aposta.
O que não entraria no closet de Cybele Barbosa
- Pele de animal
- Marrom
- Saruel (para agradar o marido, teve que comprar duas calças)
Troca-troca
No site The Coveteur (thecoveteur.com), peças de roupa e acessórios viram protagonistas em editoriais que mais parecem ensaios de decoração. Nas fotos de Jake Rosenberg, vestidos ganham status de cortina e sapatos, de escultura. A proposta é da designer Erin Kleinberg e da estilista Stephanie Mark, que pretendem mostrar um novo olhar sobre o processo criativo e as referências de formadores de opinião e lançadores de tendências. Nos ensaios, detalhes do closet repousam em móveis e outros belos objetos de decoração da casa de editores de moda, estilistas, consultores de estilo e outros influentes trendsetters.
No site The Coveteur (thecoveteur.com), peças de roupa e acessórios viram protagonistas em editoriais que mais parecem ensaios de decoração. Nas fotos de Jake Rosenberg, vestidos ganham status de cortina e sapatos, de escultura. A proposta é da designer Erin Kleinberg e da estilista Stephanie Mark, que pretendem mostrar um novo olhar sobre o processo criativo e as referências de formadores de opinião e lançadores de tendências. Nos ensaios, detalhes do closet repousam em móveis e outros belos objetos de decoração da casa de editores de moda, estilistas, consultores de estilo e outros influentes trendsetters.
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