Extraído de Casa e Jardim/Entrevistas/Arquitetura
O filme "Medianeras – Buenos Aires na era do amor virtual" discute como as construções mal-planejadas podem afetar a rotina das pessoas nas grandes cidades. Em visita a São Paulo, o diretor Gustavo Taretto conversou sobre o assunto com Casa e Jardim.
As poltronas da maior sala disponível no Reserva Cultural, em São Paulo, não foram suficientes para acomodar as 200 pessoas presentes na noite da última quarta-feira, dia 8. Foi necessário improvisar assentos, arrastando os pufes que decoravam o saguão para dentro do cinema. A cena causava curiosidade. Qual seria essa estreia, que atraia tanta gente? Na verdade, o filme já está em cartaz desde setembro de 2011. O público, que esgotou os ingressos quatro dias antes, estava ali para assistir a uma sessão especial de Medianeras – Buenos Aires na era do amor virtual, com a presença do diretor, Gustavo Taretto.
O longa-metragem argentino conta a história de dois jovens que, apesar de serem praticamente vizinhos, vivem uma série de desencontros. A grande vilã do enredo? A arquitetura irregular e sem planejamento de Buenos Aires. Durante a história, Gustavo aborda a influência das construções no comportamento das pessoas. “As separações, os divórcios, a violência familiar, o excesso de canais a cabo, a falta de comunicação, a apatia, a depressão, o suicídio, as neuroses, os ataques de pânico, a obesidade, as contraturas, a inseguridade, a hipocondria, o estresse e o sedentarismo são responsabilidade dos arquitetos”, diz o protagonista Martín, interpretado por Javier Drolas.
“Além de Buenos Aires, São Paulo foi uma das cidades que melhor receberam o filme”, contou o diretor, em um bate-papo com o público após a exibição. As primeiras cenas explicam a identificação: edifícios totalmente diferentes convivem lado a lado, sem nenhum padrão; cabos elétricos encobrem o céu; apartamentos tão pequenos e isolados, que podem ser comparados a caixas de sapato... “Irregularidades estéticas e éticas. Esses prédios, que se sucedem sem lógica, demonstram total falta de planejamento. Exatamente assim é a nossa vida, que construímos sem saber como queremos que fique”, analisa o personagem Martín.
A relação de Gustavo Taretto com a arquitetura começou aos 13 anos, quando ele ganhou uma máquina fotográfica de seu pai. “Eu saía clicando tudo. Criei um interesse particular pelas pessoas e pelos prédios”, conta o diretor. “Passei a fotografar edifícios e a reparar cada vez mais neles. Assim nasceu a ideia de contar essa história”, diz. O filme levou quatro anos para ficar pronto e o resultado tem conquistado fãs no mundo inteiro. A tempo: as medianeras do título são aquelas paredes laterais dos prédios, que não têm janelas e muitas vezes são tomadas por anúncios publicitários.
Casa e Jardim esteve no encontro e bateu um papo exclusivo com o diretor. Confira a entrevista:
Casa e Jardim esteve no encontro e bateu um papo exclusivo com o diretor. Confira a entrevista:
Casa e Jardim – A arquitetura influencia mesmo o comportamento das pessoas? Como você vê essa relação?
Gustavo Taretto – Influencia muito e, como sociedade, não temos consciência do quanto ela repercute na vida. Ela está presente na rotina, na nossa casa, na organização do trânsito, na superpopulação de certos bairros, que se tornam intransitáveis. Não é a mesma coisa viver em um ambiente que tenha paredes pintadas de branco ou com uma cor escura. Todas as coisas modificam a nossa vida.
CJ – O público de São Paulo se identifica muito com o filme. Você esperava essa reação?
GT – Sim, a história se passa em Buenos Aires, mas vejo isso em São Paulo e em muitas outras grandes cidades latino-americanas. A contaminação visual é violenta. Isso causa uma certa neurose, fobia, alienação. Enfim, complica a vida de todos.
CJ – Há alguma solução para cidades como essas?
GT – Baixar o nível de ansiedade em geral, para ter um comportamento mais organizado e civilizado. O trânsito também precisa de soluções urgentes. Mas antes de tudo isso, o mais importante não é encontrar respostas para esses problemas e, sim, entender que existe um problema. Só assim é possível começar a mudar as coisas.
Gustavo Taretto – Influencia muito e, como sociedade, não temos consciência do quanto ela repercute na vida. Ela está presente na rotina, na nossa casa, na organização do trânsito, na superpopulação de certos bairros, que se tornam intransitáveis. Não é a mesma coisa viver em um ambiente que tenha paredes pintadas de branco ou com uma cor escura. Todas as coisas modificam a nossa vida.
CJ – O público de São Paulo se identifica muito com o filme. Você esperava essa reação?
GT – Sim, a história se passa em Buenos Aires, mas vejo isso em São Paulo e em muitas outras grandes cidades latino-americanas. A contaminação visual é violenta. Isso causa uma certa neurose, fobia, alienação. Enfim, complica a vida de todos.
CJ – Há alguma solução para cidades como essas?
GT – Baixar o nível de ansiedade em geral, para ter um comportamento mais organizado e civilizado. O trânsito também precisa de soluções urgentes. Mas antes de tudo isso, o mais importante não é encontrar respostas para esses problemas e, sim, entender que existe um problema. Só assim é possível começar a mudar as coisas.
CJ – E a internet? Você acredita que ela acaba afastando as pessoas, em vez de aproximá-las?
GT – Minha intenção não é julgar a internet, mas o mau uso dela. Tanto que, no final, o YouTube aparece de uma maneira positiva.
CJ – E como é a sua relação com a internet?
GT – Gosto muito. Sou até meio viciado e tento controlar o tempo que dedico a ela. É engraçado observar o celular, por exemplo. Podemos falar, mas preferimos enviar mensagens de texto. É mais fácil convidar uma menina para sair por mensagem e também é mais fácil para ela recusar o convite dessa maneira (risos). As relações se tornaram mais virtuais e há vantagens e desvantagens. É preciso saber usá-la.
GT – Minha intenção não é julgar a internet, mas o mau uso dela. Tanto que, no final, o YouTube aparece de uma maneira positiva.
CJ – E como é a sua relação com a internet?
GT – Gosto muito. Sou até meio viciado e tento controlar o tempo que dedico a ela. É engraçado observar o celular, por exemplo. Podemos falar, mas preferimos enviar mensagens de texto. É mais fácil convidar uma menina para sair por mensagem e também é mais fácil para ela recusar o convite dessa maneira (risos). As relações se tornaram mais virtuais e há vantagens e desvantagens. É preciso saber usá-la.
Assista ao trailer de Medianeras – Buenos Aires na era do amor virtual: http://www.youtube.com/watch?v=yVUQx99jzHQ&feature=player_embedded
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